quinta-feira, 2 de agosto de 2012

MAUC: ACERVO DE EX-VOTOS

O artigo abaixo é um extrato da página do Museu de Arte da UFC (MAUC). Nele, vemos a coleção de ex-votos do museu. Essa curiosa manifestação artística, tão popular no Nordeste do Brasil, tem, na verdade, origem na Europa, no Século IV da Era Cristã, baseada em manifestações pagãs muito anteriores. É uma poderosa e recorrente expressão da relação do homem com o mundo dos deuses, tão antiga como a própria Humanidade. Leiam a apresentação da coleção do MAUC, no texto a seguir:


Apresentação

O ex-voto, tipo de expressão artística, de índole religiosa, e que comemora um voto ou promessa feita em ocasião de doença ou perigo, caracteriza-se, entre nós, por sua bizarra originalidade, menos devida a uma peculiaridade artística, do que à técnica rudimentar empregada por seus artesãos.


Os artífices dessa arte são popularmente conhecidos por "santeiros" ou "milagreiros", e exercem sua profissão de preferência nas regiões carismáticas, perto de algum santuário de peregrinação religiosa. Aí, sobretudo nas festas dos padroeiros, são procurados pelos pagadores de promessa, que lhes encomendam os ex-votos (milagres, como são denominados pelo povo), destinados aos santuários milagrosos, em oferenda de gratidão a um santo ou à divindade, por um milagre ou graça alcançados na cura de algum mal físico.


O ex-voto distingue-se por um detalhe: tenta reproduzir, do modo mais realista possível, a natureza da doença que afetou o devoto miraculado. Se, por exemplo, era o caso de uma ferida localizada no pé, então o santeiro se incubirá de esculpir essa parte do corpo afetada pela doença, caracterizando-a com fiel reprodução do ferimento, de acordo com as instruções que lhe tenha dado o encomendador da peça. E o que vemos então, na "casa dos milagres" das igrejas, é um profuso amontoado de rudimentares esculturas, quase sempre em madeira, numa impressionante reprodução das infindáveis mazelas humanas, algumas bem curiosas, como a do homem que foi "curado" de uma gravidez...

Os fregueses, compradores de ex-voto, posto que muito exigentes quanto ao tema da peça encomendada, pouco interesse demonstram pelo aprimoramento técnico ou artístico da obra. E é na capacidade de conciliar a delimitação imposta pelas exigências da clientela com a liberdade de expressão pessoal, que o santeiro revela as aptidões do seu espírito criador. No mais, procura satisfazer ao gosto dos compradores, e até o explora para fins comerciais, com resultados que são sempre bastante compensadores.


Ao apresentar esta exposição de ex-voto, o MAUC pretende tão somente oferecer ao público o ensejo de tomar contato com uma manifestação de arte popular que até hoje perdura como um testemunho religioso da fé simples e primitiva que a tem inspirado.

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